O Meu Vizinho
Emilly Dos Santos Silva
Fernanda Cardoso
Fernanda Cardoso
O Meu Vizinho
André era meu vizinho já há bastante tempo, o apartamento em
que morava, pegado ao meu, havia
pertencido à sua mãe, uma senhora gorda, de andar lento, que nunca me
cumprimentava quando nos encontrávamos, nos corredores ou no elevador. Ela morrera
há mais ou menos um ano e, desde então, seu único filho, solteiro, herdeiro
universal, mudara-se para lá.
André era uma pessoa cordial, me cumprimentava sempre e era
gentil com as pessoas do prédio, muito diferente de sua mãe, o que me fazia
sempre pensar: como alguém como ela podia ter criado uma pessoa tão amável,
quanto era meu atual vizinho?
Mas, a principal qualidade de meu amigo... não poderia
chamá-lo de amigo, o mais correto seria: conhecido, pois como já dissera antes
nossa relação não excedia os “bons dias”, “boas tardes” e “boas noites”, ditos
à soleira da porta. Mas, voltando ao assunto, a principal qualidade dele era
sua noiva: Marlene. Marlene era uma daquelas mulheres de fazer cair o queixo,
linda exuberante, dotada de dois olhos verdes de um brilho comparado às
esmeraldas, uma pele alva e cabelos negros como a noite, que, em fios retos,
adornavam seu rosto e caíam por suas costas quase até a altura da cintura.
Vez por outra eu a via com ele, entrando e saindo do
apartamento, sempre numa “estica” de fazer inveja. Foi numa dessas vezes,
quando ele voltara a entrar para apanhar algo que esquecera, e a deixara à
porta, que ela puxou assunto:
— Quente hoje, não?
— Sim. — respondi, meio sem jeito, enquanto deixava cair a
chave, que tentava enfiar no buraco da fechadura — Quente demais!
André voltou, antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa
e, enquanto aguardavam o elevador, eu entrava e pude vê-la, dissimuladamente,
dar uma piscadela em minha direção.
Depois daquilo, demorou muito a voltar a vê-la, mas, quando
aconteceu, ela sequer me dirigiu o olhar, pelo menos que eu percebesse.
Bom, o tempo passou, sem nenhum acontecimento peculiar,
porém, numa noite de chuva, daquelas que alaga a cidade, causando confusão no
tráfego e deixando muitos desabrigados; eu estava sentado em minha sala, lendo
um livro, enquanto os relâmpagos iluminavam vez por outra a noite negra, quando
o som estridente da campainha soou repetidas vezes, antes que eu alcançasse a
porta. Ao abri-la, surpresa minha ao me deparar com Marlene, molhada dos pés à
cabeça. Estranhei mais porque, justo naquela semana, dias antes, André também
batera à minha porta, pedindo gentilmente, que desse uma olhada em qualquer
coisa estranha, referente ao seu apartamento, pois estaria fora, viajando por
alguns dias.
Bem, o que importava era que ela estava ali, na minha
frente, molhada e pingando em meu capacho de boas vindas.
— Posso entrar? — indagou ela, tremendo de frio.
— Claro. — concordei, saindo da frente da porta, dando-lhe
passagem - Desculpe.
Marlene entrou, dando uma olhada ao redor, reparando em meu
apartamento, bagunçado como o de qualquer solteiro, que não esperava por
ninguém; depois parou, no meio da sala.
— Desculpe, mas o André me havia dito que estaria voltando
hoje. Vim vê-lo, bati na porta até agora e nada... Como estou com muito frio e
a rua está praticamente alagada, dificultando meu retorno, resolvi bater.
— Claro... Claro! — disse eu, enquanto ia até o banheiro,
apanhar uma toalha seca para ela se enxugar.
Voltei rapidamente, trazendo uma toalha limpa, que apanhara
no armário do banheiro, enquanto ela continuava a tremer. Entreguei-lhe e ela
começou a se enxugar, principiando pelos longos cabelos negros, depois pelos
braços, enquanto retirava a jaqueta jeans que, ensopada me entregou.
— Você pode segurar pra mim? — indagou com um tom gentil,
porém com uma ponta de malícia no sorriso.
— Claro. — parecia que essa era a única coisa que conseguia
dizer diante daquele monumento, que a camiseta branca, de algodão, molhada até
a alma, se revelava.
Apanhei a jaqueta e fui até a pequena área de serviço, onde
pendurei-a, enquanto lá fora, através das amplas janelas envidraçadas, podia
ver a chuva torrencial que se abatia sobre a cidade maravilhosa.
Quando voltei à sala, ela havia tirado os sapatos,
colocando-os ao lado da porta do banheiro, e sobre ele as meias brancas, que
tirara dos pés, bem tratados e de unhas pintadas, porém enrugados devido à água
que entrara nos sapatos.
— Será que eu podia tomar um banho? — perguntou ela, olhando
para o interior do banheiro, onde um box translúcido servia de fronteira com o
interior da área de banho — Quem sabe assim ajuda a passar esse frio.
— Claro... Pode sim. — concordei, conseguindo sair de minha
gagueira mental — Há sabonete e shampoo, não sei se do seu agrado, mas...
— Serve. — concordou ela, entrando no banheiro, enquanto eu,
educadamente, porém morrendo de curiosidade, fechava a porta.
Lá de fora, sentado na sala, escutava o barulho do chuveiro
e imaginava a água quente caindo naquele corpo macio e rolando sobre aquelas
curvas exuberantes; enquanto tentava me distrair, voltando à leitura.
A tortura durou longos minutos e logo a porta abriu-se,
deixando sair o vapor, que tomara conta do banheiro, invadindo o corredor... Em
seguida ela saiu, enrolada na tolha, que lhe cobria o corpo desde acima dos
seios indo até a altura das coxas, bem próximo à virilha. Sem nada dizer,
seguiu para o meu quarto, enquanto eu fingia não ver nada. Ela entrou e nem
fechou a porta; saiu, alguns minutos depois, usando uma camisa minha, de cor
amarela, comprida, que chegava até a altura de suas coxas. Imaginei o que
estaria usando por baixo.
Ela aproximou-se e sentou no sofá, à minha frente, arrumando
a camisa para proteger-lhe as partes íntimas, enquanto cruzava as pernas,
acomodando-se.
— Agora está melhor. — disse ela, indicando a camisa que
usava — Tomei a liberdade...
— Sem problema. — disse eu, baixando o livro, porém não
conseguindo desviar os olhos dela. Estava linda e suas formas excitavam minha
imaginação.
— O que está lendo? — indagou ela, erguendo-se e vindo para
o meu lado; passou, e agachou-se, atrás do braço do sofá, onde eu estava com a
cabeça recostada e seu rosto quase tocou o meu — Algo interessante?
— Não. — disse, sentindo o perfume gostoso do sabonete em
seu corpo. Parecia que no meu não fazia o mesmo efeito — Qualquer coisa para
passar o tempo.
Sentei-me, afastando meu rosto do dela, ela, porém,
insistiu, insinuando-se por sobre o braço do sofá.
— Há modos melhores de “passar o tempo”! Você não me disse
seu nome, ainda. — brincou ela, abrindo aquele sorriso malicioso.
— Márcio... Meu nome é Márcio. — disse, voltando meu rosto
para o dela, enquanto pensava: por que resistir? — E o seu? — indaguei,
fingindo não saber.
— Marlene. — ela passou o braço por sobre meu ombro,
retirando o livro de minhas mãos, enquanto tocava o lóbulo de minha orelha com
seus lábios.
Virei-me e nossas bocas encontraram-se, unindo-se num beijo
quente e molhado; aquela boca carnuda, porém pequena era deliciosamente doce.
Logo caíamos do sofá, rolando no chão, enquanto a camisa dela subia, revelando
suas intimidades.
Com sofreguidão ela começou a tirar minha camisa, enquanto
eu puxava a blusa dela, arrebentando seus botões e liberando seus seios,
altivos e ristes como o cume de uma montanha, que rosados pareciam estourar por
entre os botões.
Minhas mãos começaram a percorrer aquele corpo nu, lançado
sobre meu carpete, detendo-se, inicialmente, nos formosos seios, que enchiam
minhas mãos, de forma maravilhosa e quente; depois, desceram, percorrendo suas
curvas, até atingirem sua intimidade, que parecia estar febril.
Logo ela ergueu-se, estendendo-me sua mão e melhor pude
constatar suas formas e a cintura delicada que desembocava naqueles quadris
arredondados e belos. Suas pernas compridas e bem torneadas estavam bronzeadas,
talvez do sol da praia, contrastando com o rosto alvo, talvez protegido por
protetor solar.
Segurei sua mão e ela conduziu-me para o quarto. Lá terminei
de despir-me e deitei sobre ela, que se estendera sobre minha cama, cobrindo-se
com aqueles cabelos negros e longos, que úmidos aderiam à nossa pele.
Foi uma noite incrível, de sexo e desejos desenfreados. Por
diversas vezes paramos e recomeçamos, em sessões quase que ininterruptas, que
levavam-nos à loucura, realizando fantasias e colhendo desejos, além de um
frenesi, que eu jamais julgara um dia conseguir atingir com alguém, e que
perdurou até o dia amanhecer com o sol, que surgia para limpar o dia e as ruas,
cheias de água, lixo e entulho, arrastado pela força das águas que formara um
rio, levando tudo em sua correnteza.
Quando por fim adormecemos, estávamos exaustos e suados,
enquanto o sol invadia o quarto, iluminando nossos corpos que brilhavam sob
seus raios.
Ao acordar, encontrei Marlene já se vestindo. Suas roupas
talvez já tivessem secado e, mesmo que úmidas ela as vestia assim mesmo. Fiquei
observando-a, enquanto apanhava-as, hora aqui, hora por ali e só quando
terminou, ousei interrompê-la.
— O mesmo. — respondeu, procurando as meias, para calçar os
sapatos.
— Já vai? — levantei-me, enrolado nos lençóis e aproximei-me
dela.
— Já! — ela sorriu, olhando-me nos olhos enquanto apalpava
os sapatos, verificando que continuavam molhados — Espero que tenha gostado.
Mas, acertemos uma coisa: Isso nunca aconteceu!
— Como? — fiquei surpreso, aquelas palavras me pegaram tão
desprevenido que deixei o lençol cair.
— Isso mesmo! Confesso que já fazia um tempo que tinha um
tesão por você. Mas, agora já demos um fim nele, caso encerrado! — ela sorriu e
segurando os sapatos, ainda molhados e as meias, numa das mãos, com a outra
mandou-me um beijo e seguiu para a porta, onde parou, antes de abri-la. — André
deve voltar talvez amanhã, ou depois; ele é super ciumento e estamos de casamento
marcado. Acho melhor guardar nosso segredo... Quem sabe, ainda podemos ter um
“repeteco”...
Ela saiu, deixando-me pasmo, sem saber o que fazer ou o que
pensar.
Por várias noites passei recordando aqueles momentos sem
conseguir pregar o olho, porém, um belo dia, ao sair de casa para ir ao
jornaleiro, deparei-me com André e Marlene, chegando. Ele abria a porta, com um
largo sorriso nos lábios, enquanto ela adulava-o, de maneira carinhosa e
gentil. Coitado, não imaginava a garota com quem ia se casar.
Fiquei ali parado, após ele me cumprimentar e, assim que ele
entrou na frente, ela voltou seu olhar para mim e com um sorriso dissimulado
deu uma longa piscadela.
Os dois entraram, deixando-me ali, pasmo, sem ação, mas logo
me recompus e, caminhando até o elevador sorri, afinal de contas, pelo jeito,
logo Marlene seria minha nova vizinha.
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